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20 outubro 2013

vinícius de moraes / poética (I)



DE MANHÃ escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
A oeste é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
─  Meu tempo é quando.



vinicius de moraes
o poeta apresenta o poeta
cadernos de poesia
publicações dom quixote
1969




20 novembro 2012

vinícius de moraes / poema do natal




PARA ISSO fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos ─
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos ─
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai ─
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação na poesia
Para ver a face da morte ─
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem: da morte, apenas
Nascemos, imensamente.




vinicius de moraes
o poeta apresenta o poeta
cadernos de poesia
publicações dom quixote
1969


21 março 2011

vinícius de moraes / a rosa de hiroxima




Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada





vinícius de moraes
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001