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10 setembro 2020

narciso pinto / serviços mínimos



abro no escuro esta lata de cerveja
ciente das represálias e da caça à multa –
já me enchi de endireitar a vida
a protestar de mansinho
a cravar boleia aos três pastorinhos
e a palitar o sono em cadeira sem assento
fazia uma outra disto ao fim ao cabo
espuma de outra cerveja –
(estacionam diante o prédio
decerto despertando o vizinho cuja voz jamais escutei)
já estive dentro
sei bem como ferve a demência refém de substâncias ilícitas
desmerecendo-nos a memória
de glórias alcatifadas em soalhos doutrem
as náuseas são por demais nesse engolir em seco
e com que fim haveria eu de
sangrar um cemitério num qualquer trecho de terreno baldio
em prol de uma errata
busco nos outros a escuna
convicto de que enquanto não se acha a pérola
come-se a ostra
sem recorrer à caridade de água-doce
e entre estas tantas decerto outras
escritas num caderno abandonado no balde do lixo
que a porteira há-de um dia recolher



narciso pinto
unhas de fome
poetria
2020









11 abril 2018

narciso pinto / touché




Esta cidade é uma arca-congeladora!

A lua – decerto em aquário –
Resplandece-nos fingindo,
No lodaçal das pupilas
Dos que atentam sumidos;

Estreia inaugural
D´uma lindíssima ressaca a dois,
Após terrível bezana –
Trave mestra d´intimidades!

A morte é uma foco-de-presença,
Rondando sempre ambulatorial,
E sombreada – quando o convém –
Pela escuridão do amor;

Endomingados toda a vida,
(ançaimando ciúmes e medos)
Calibramos a voltagem do peito
Por meio d´um beijo que doma arritmias…

Ninguém faz caso!



narciso pinto
os deleites do tédio
pangolim
líricas & patuás
língua morta
2017






25 setembro 2017

narciso pinto / juras de mora







Servirá o amor –
De plano-poupança para o devir?

Na alma urgem-nos brancas
Enquanto barbeamos projectos ao espelho…
E a felicidade, por certo,
Ficar-nos-á sempre uns números acima…

Ao mínimo infortúnio
O absurdo leva incrédulo as mãos à cabeça!
É nada mais o amor –
Do que um telhado sem fundações;

[a mesa indisposta
e atrasados para a morte,
enquanto não se lava a loiça
com vista a enganar a fome]

Em sendo musgo, somente –
É que nos fundiremos na pedra…

(há gente que acende cigarros
e se assusta.)



narciso pinto
fundos perdidos
pangolim
líricas & patuás
língua morta
2017




01 fevereiro 2016

narciso pinto / horóscopo



Dias mais difíceis virão, querida!

Seja isto que te escrevo –
A roldana de estendal que te traga a mim…

Tenho evitado toda e qualquer vichyssoise
A não ser por debaixo da mesa…
E sei agora que as ideias ou se lavam à mão
Ou encolhem…

Sei a textura exacta do teu suspiro –
Frágil miado de porcelana!
Sei o quanto anseias sonhar sem quilha,
Roçares-te pornograficamente nas nuvens…

Na esquina mais humana de ti,
Sou abordado por todo o tipo de gente…
Não te dá sossego, essa corja?
Não te será permitido um laivo de solidão?

Hei-de cavar funda a cova no peito
E enterrar-te viva dentro de mim…

Dias mais difíceis virão, querida!


narciso pinto



10 agosto 2015

narciso pinto / cheirar-te pela manhã



Cheirar-te pela manhã
Como se cheira uma maçã

(sem que o Goethe venha à baila)

Quando o sol se levanta
Já ninguém recusa uma boa foda…

Um beijo teu é quase um aríete
A demolir os meus alicerces.

A vizinha insiste com a vassoura
No estuque de um sonho nosso…

És o único despertador
Que eu vou tolerando!


narciso pinto
sarro
(da paixão à cova)
chiado editora