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30 abril 2016

josep maria llompart / caminho da fonte



            homenagem a Pero Meogo



Sedentos veados
pelo pinheiral,
no bebedouro abriam-se
os montanhosos cumes.
Veados que bebiam
com focinhos trémulos.
A amiga chegava
buscando o amado:
pérolas orvalhavam
faces de coral.
Veados afastavam-se
no entardecer suave,
a água sussurrava
na sua solidão.



josep maria llompart
(palma de mallorca, 1925)
quinze poetas catalães
trad. egito gonçalves
ed. limiar, porto
1994



09 setembro 2009

josep maria llompart / amaram-se, souberam...






Amavam-se, sabei,
vicente aleixandre






Amaram-se; souberam
a urgência do sexo, como as veias
num momento se podem encher de água
salobra, de sol estival, de peixes
voadores.
Escondiam-se
na noite do pinhal ou pelos mornos
cantos de sombra.
Sentiam, fatigados,
o rumor da borrasca ou o longínquo
zumbir da cidade.
Ao acordar pela manhã ela acreditava
sentir no quarto um perfume de rosas,
e ele pensava o primeiro verso
de um poema que afinal nunca escreveu.
As bodas foram muito excitantes.
Têm um filho notário na península
e uma filha com noivo.
São gente a que chamam respeitável.

Regressam a casa ao fim da tarde, vagarosos,
saboreando, cansados, o crepúsculo.
Algumas vezes os olhos se lhes perdem,
com uma ponta de impaciência, entre os ramos
das árvores da rua, como se buscassem
um resto de vigor ou de carícia.
Olham os anos, o céu, as horas
secas,
o relógio e a poeira. Caminham. Calam.









josep maria llompart
(palma de mallorca, 1925)
quinze poetas catalães

trad. egito gonçalves
ed. limiar, porto
1994






06 janeiro 2005

um poema de: Josep Maria Llompart


Sou cidadão de um dócil território


Sou cidadão de um dócil território,
obtuso habitante de fulminante aldeia;
vivem em mim inominadas mortes, confusão
de estandartes sombrios, fantasmas de lura.

Irado e louco, pregador enganado,
escrevo o nome ardente com marfim e piche:
tabuleiro de xadrez onde tomam posse
ânsias, afãs, com férreo clamor.

Sou verme condenado, humilhado, atrás
de vaga ardente em mar de limo e lama,
grito na noite, espera desesperada,

e sigo adiante, para além do negro e branco,
alma adentro, arvorando a bandeira:
sobre amarelas dedadas de sangue áspero.



Josep Maria Llompart
“Quinze poetas catalães”
Ed. Limiar, Porto, 1994.

Trad. Egito Gonçalves