Mostrar mensagens com a etiqueta john berryman. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta john berryman. Mostrar todas as mensagens

15 outubro 2012

john berryman / soneto 117


  

Estávamos cheios de força a noite passada por esta hora,
as borboletas voavam e os daiquiris gelados descaíam,
Lise estava deitada de costas no chão,
séria e sublime, ouvindo Schubert,
a minha cabeça explodia com uma rima:
foi uma bela noite, uma noite para agradar,
beijei-a na cozinha – êxtases –
e ocultámos o crime sob um manto de ternura.

O tempo está a mudar. Estava frio esta manhã
enquanto me dirigia para o parque, sem expectativas,
centenas de velhos sonetos no meu bolso
para lhe ler caso ela viesse. Mas os pinheiros entretanto
encheram-se de sol e a minha senhora não veio
em jeans azuis e camisola. Sentei-me e escrevi.




john berryman
(1914-1972)
collected poems, 1937-1971
farrar, straus & giroux, inc.
tradução de miguel gonçalves