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22 outubro 2022

gastão cruz / corda

 
 
Ninguém tem nome: apenas uma escura
corda de sons que prende o corpo e deixa
queimaduras na pele, esse é o preço
de ser nomeado porque o chamamento
 
de cada vez se torna mais ardente
até ser casa ou roupa ou outra pele
que fere o corpo e finalmente o veste
do nome que é o dele
 
 
 
gastão cruz
relâmpago, revista de poesia nº 34
abril 2014
fundação luís miguel nava
2014




18 novembro 2021

gastão cruz / assim nos despedimos

 
 
Assim nos despedimos do violento
som gasto e demorado com que as armas
se despedem agora do outono
assim começa e cessa
 
a solidão na zona destruída
pelos seus acidentes pela demora
da palidez que estende
sobre os dias e noites o desgaste
 
da luz e das palavras
assim nos despedimos das feridas
brevíssimas do tempo sobre o corpo
 
assim nos despedimos do violento
som breve com que as armas de despedem
agora do outono
 
 
 
gastão cruz
as aves
1969





14 maio 2020

gastão cruz / thriller



Mil bares conheci cheios de gente
morta, como se aqueles dias vivos,

sem que eu soubesse, o dia de hoje fossem,
e talvez pertencessem ao filme

num clube visto outrora;
podia ser ali o paraíso, mas outrora

era agora: e aqui nenhuma vida
ou morte sobrevive


gastão cruz
relâmpago, revista de poesia nº 34
abril 2014








12 novembro 2014

gastão cruz / paisagem escocesa



A relva chega ao mar, sempre uma praia de erva contra o cinzento da água.
Uma bandeira branca vai correndo. Um farol; o cemitério de Dunbar. Ao longe,
pequenas cristas de espuma quase coroam o verde agressivo. O sol, penetrando
entre as escamas, cai sobre ele, num terror de esmeralda. O céu é um peixe.
Em variação, a luz parece baixa ou retém-na, por vezes, o céu cheio de
imagens. Por cima, a nuvem negra, concentrada. Mas no resto do céu figuras
claras. Numa lâmina, a prática da prata.



gastão cruz
poemas reunidos
dom quixote
1999



31 maio 2009

gastão cruz / final







As palavras despedem-se dos dias
em que falar é o melhor serviço
Caem mortas e vivas da linguagem
vitimada

Mas quando regressarem
a sua fúria grande prenderá
nos humanos céus húmidos a arte
esquecida e excessiva da poesia.






gastão cruz
poemas reunidos
dom quixote
1999