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15 janeiro 2024

eduarda chiote / o mal da morte

 



 

3
 
Falas-me do doce beijo envenenado
e dos prontos e preparados para morrer em qualquer idade
e da fraqueza dos miseráveis
e perguntas-me porque os silencio
e eu digo-te: porque de tudo desinteressada, salvo da grandeza
sem a qual nenhuma revolta vale a tentativa de irradiar
da terra o que dela se despoja
da mais vil razão de que. Por mais tempo que se viva,
jamais se entenderá a ironia desprovida de maldade;
de luz que necessita da noite para gerar no escuro
a alta claridade do sol – ao meio dia.
 
 
 
eduarda chiote
nervo/20 janeiro / abril 2024
colectivo de poesia
2024
 




05 julho 2013

eduarda chiote / o corpo e a primavera



Ouço
o corpo
da primavera.

Na brisa
segura macias flores.
Dir-se-ia o delicioso rubor
dos seios.
Não sei se surgindo
da vergonha
de alguns botões ainda
por abrir.

Terno enredo
o de escutá-lo no sobressalto e despontar
do sexo: sentado
conserva os joelhos apertados
contra o queixo,
furtando-o
a invisíveis e furiosas
abelhas.
Talvez por medo
de que o mel desabe
e o tempo tenha de acolher-se,
abrasado de cio,
na delícia e destreza
de uma ingenuidade em absoluto
efémera.
De que as rosas
breve
percam o engano e o frescor
da voz.

Deixemo-lo, pois, entregue
ao claro som e asseio
do seu respirar.


eduarda chiote
a celebração do pó
asa
2001



21 abril 2013

eduarda chiote / dependência




Ó Leviatã,
ó adormecido em espessas trepadeiras
de água,
que sabes das correntes
ensandecidas pelo odor fundo
da lua?

Animal fervoroso
e marinho,
como pudeste seduzir-me
a ponto de me prometeres sempre
marés calmas,
tu, vampiro de naufrágios
e de sal?

Em verdade, ó adormecido em espessas
trepadeiras de água,
talvez haja um comprazimento
sem mistério
nas rochas poisadas sob o mar: que de outro
modo o coração delituoso das espécies
nelas cravadas
a ponto de ficarem cegas
e não por necessidade mas comodismo
do espírito,
Leviatã?, amigo meu ? diz-me.



eduarda chiote
a celebração do pó
asa
2001