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08 abril 2022

antónio dacosta / nesse jardim onde pousais

 


 
Nesse jardim onde pousais
Pousei eu
 
Os sinos soavam pesados
Na limpidez da tarde
E havia nos eucaliptos
Uma memória antiga
Um antigo cheiro
 
Passavam as raparigas
Que sabia não serem minhas
 
Doía-me o destino
A sua voz vinda de longe
O seu dedo apontado a mim
 
Elas sabiam
 
 
 
antónio dacosta
a cal dos muros
assírio & alvim
1994









24 setembro 2015

antónio dacosta / venho do mar



Venho do mar
Venho dos montes
Sê amiga do meu repouso

Se apeteço ser rei
Ter um barco e um cão
E dos meus amigos ser amigo

Sê benigna
Se me amas



antónio dacosta
a cal dos muros
assírio & alvim
1994



18 novembro 2013

antónio dacosta / tornam aqui as aves



Tornam aqui as aves
Sempre outras como eu
Longe de mim buscam
Outro que mim

O teu braço apontado ao céu
Semelhavas - no desabrochar
As flores o tempo que nos cercava

Não havia portas no teu jardim
Era como estar dentro do que vias
Tudo de ti estava em nós e era transparente

Via-te o vulto voltado à luz
Que o braço erguido apontava
E no tempo que nos cercava
Semelhavas
Que o nosso olhar não via
E de longe em ti buscava
O outro que mim

  

antónio dacosta
a cal dos muros
assírio & alvim
1994



15 maio 2013

antónio dacosta / no jardim de meu pai


  
Agora posso dizer o quanto me doíam
a dureza do teu silêncio e as
veredas por onde te sumias
no teu exílio, ilha, o olhar
presos na última réstea de luz que no
mar se afoga.
A voz antiga que se impunha não
falar da tua ausência
enchia-a e distraído
de mim apenas via nela as secas flores
murchas da memória.
Meu ignorado
mestre de enigmas os que percorriam o teu
sorriso breve
só por ti eram sabidos
ocultos na curva doce dos dias
que medias a olhar o teu
próprio fim.
Não mos podias tu ensinar a mim
nem eu aprendê-los de ti podia.



antónio dacosta
a cal dos muros
assírio & alvim
1994


26 setembro 2012

antónio dacosta / poema português





Ó minha terra de nevoeiros míticos
De imerecidas serras frescas
O sol que aquece os teus dias não é nulo
Nem os epistémicos deuses que te espreitam
Do alto sobre as tuas sete colinas
Ávidas estátuas tristes de serem velhas sombras
Antigas e só oníricas de vez em quando
Deixai pois ó pretas gravatas públicas da verdade
Deixai o sonho ser tão real como são
As pedras os muros as casas as amplas cidades
A morna brisa que te aquece as noites
Há-de amanhã soprar outra e outra vez
E tudo o que no redondo mundo é vivo
Será vida como agora a vejo eternamente a mesma.





antónio dacosta
a cal dos muros
assírio & alvim
1994