05 janeiro 2018

david mourão-ferreira / porta do inferno



Numa cidade azul, aberta cruamente
aos desenhos do Sol, aos desvios da Lua
 – aí me espera a forma ausente
que nos meus sonhos se insinua.

Amei, mais do que tudo, a morte que sonhara
ir encontrar em ti, fatal e apetecida.
Num círculo de luz impetuosa e clara
teremos o estertor que nos faltou em vida.

Numa cidade azul, antiga e duvidosa,
onde morreu Narciso à míngua de frescura,
hão-de nos dar enfim uma sangrenta rosa
– aquela que mereceu a nossa vida impura!


david mourão-ferreira
lira de bolso
publicações dom quixote
1971






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