04 julho 2017

lawrence ferlinghetti / a poesia como arte insurgente



(excerto)


Envio-te sinais por entre as chamas.

O Pólo Norte não está onde costumava estar.

O Destino Manifesto já não é manifesto.

A civilização está a autodestruir-se.

Némesis bate à porta.

Para que servem os poetas, numa época assim? Qual é a utilidade da poesia?

O estado do mundo pede à poesia que o salve. (Uma voz no deserto!)

Se queres ser um poeta, cria obras que consigam responder ao desafio de um tempo apocalíptico.

Tu és Whitman, tu és Poe, tu és Mark Twain, tu és Emily Dickinson e Edna St. Vincent Millay, tu és Neruda e Maiakovski e Pasolini, tu és americano ou não, tu podes conquistar os conquistadores com palavras.

Se queres ser um poeta, escreve jornais vivos. Sê um repórter no espaço sideral, e envia as tuas matérias para um supremo redactor-chefe que acredite na transparência total e tenha uma fraca tolerância a conversa fiada.

Se queres ser um poeta, experimenta todo o tipo de poéticas, gramáticas eróticas imperfeitas, religiões extáticas, efusões pagãs glossolálicas, discursos públicos bombásticos, rabiscos automáticos, percepções surrealistas, fluxos de consciência, sons encontrados, discursos e divagações – e cria a tua própria voz límbica, a tua própria voz secreta, a voz que te diz.

(…)




lawrence ferlinghetti
a poesia como arte insurgente
tradução de inês dias
relógio d´água
2016






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