01 agosto 2016

pedro spigolon / meteorologia dos corpos





Nenhum dilúvio limpará esse ódio
haverá sempre uma vingança justa
sempre uma revolta necessária.
Qualquer apelo é inútil
rezar nem se fala.
Não há onde esconder esse desespero.
As crianças não cabem nos bolsos
e ainda precisam empilhar corpos
como os brinquedos de uma guerra.
Um olho nunca será uma bolinha de gude,
uma amarelinha não se pula sobre cadáveres.
O único céu é o da boca
quieta como um dia nublado
em que a chuva encontra o silêncio
que abandonou a carne.
Sangue não é urucum
para pintar o rosto da cidade
com pavor e medo.
Nem tente recostar seu rosto
nessas bochechas que desmancham,
qualquer carinho é um crime
toda empatia uma cumplicidade.
Do telhado do país
a vertigem das gotas,
em vão esfrega essas mãos:
água não lava o horror.
No Jornal Nacional tudo será
paz e progresso
e a previsão do tempo
indicará estiagem
seca das lágrimas
racionamento da saudade.
A vida escorre confundindo
Choro com chorume…
Daqui algum tempo,
quando o sol evaporar o medo
o ódio grudará nas nuvens
escurecendo  céu
e novamente seremos
mortos
órfãos
ou cúmplices.


pedro spigolon
espanto
editora medita
2015



2 comentários:

POESIAS SENSUAIS E CONTOS disse...

Realmente amigo estamos atravessando um momento histórico não tão agradável, mas tentamos nos agarrar num fio de esperança. Quando criança acreditamos em contos de fadas, mas depois que crescemos ai vem a verdadeira realidade que muitas das vezes nos causa pavor e medo. O ódio unido da fé que fere e mata em nome do que?.

Unknown disse...

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