04 janeiro 2016

sylvia plath / tu és



Como um palhaço, contentíssimo, mãos no chão,
Pés para as estrelas, cabeça como a lua,
Com guelras como os peixes. O uso comum de uma prática
Nos polegares apoiado à maneira de um dodó.
Enrolado em ti próprio como numa bobine,
A perscrutar o escuro como faz a coruja.
Calado como um nabo desde o Quatro
De Julho até ao dia das Mentiras,
Ó elevador das alturas, meu tesouro.

Esparso como o nevoeiro e esperado como o correio.
De mais longe do que a Austrália.
Atlas de costas curvadas, o nosso camarão mais viajado.
Recolhido como uma flor em botão e à vontade
Como sardinha em lata.
Um cesto de enguias ondeantes.
Saltitante como feijão mexicano.
Certo, tendo razão como uma conta bem feita.
Uma ardósia limpa e o teu rosto nela.

  

sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996




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