12 janeiro 2016

marcos tramón / desalojamento



Hoje amanheci triste. Nem sequer
a manhã, insensível, me comove.
Hoje amanheci comigo ao lado, triste,
feridamente triste,
como os desalojados.
Como um homem e uma mulher
de incontáveis invernos,
que obrigados se viram com ofertas
ruins a abandonar os seus deuses lares
(o sol de muitos anos
atrás das mesmas janelas;
lembranças como pássaros
que não envelhecem, ferem
os seus cantos ainda;
uma vida, de súbito, à intempérie).
Como os desalojados,
como mulher e homem
que despertassem surpreendidos, sós,
numa manhã mais de sol exagerado.


marcos tramón
poesia espanhola anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000




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