14 junho 2014

edmundo de bettencourt / luar



Apenas o luar chegou,
desfez-se em asas no ar.
E toda a noite levou
a regressar devagar...

Em noites alvas, de lua,
não há nudez com vergonha.
À luz do luar, o barro
é o mármore com que sonha.

À luz do luar, as aves
nocturnas, breve, enlanguescem
e, ao seu crepúsculo da sombra,
mortas de sonho adormecem...

Os silêncios do luar são
aléns de notas agudas,
são gritos paralisados
em rictos de bocas mudas!

O luar rouba ao escuro
o que de dia é segredo.
À luz do luar podemos
ver respirar o arvoredo...

Canção ouvida ao luar
não terá ritmos perdidos
- é som vivendo no olhar
- luz que fica nos ouvidos.

À luz do luar a água
soluça todas as dores,
que à luz do luar a água
tem na cor todas as cores.



edmundo bettencourt
poemas de edmundo bettencourt
1962



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