17 junho 2013

blaise cendrars / prosa do transiberiano e da joaninha de frança


(...)

Do fundo do coração brotam-me lágrimas
Se penso, Amor, na minha amada;
Não passa duma criança, que encontrei
Pálida, imaculada, no fundo dum bordel,
É uma criança, loura, risonha e triste,
Não sorri nem chora;
Mas no fundo dos seus olhos, quando vos deixa beber
Treme um delicado lírio de prata, a flor do poeta.

É meiga e calada, sem nada a apontar,
Estremece à vossa aproximação;
Mas quando eu volto, daqui, dali, da festa,
Ela dá um passo, depois fecha os olhos -
      e dá um passo.
Porque ela é o meu amor, e as outras mulheres
Só têm vestidos de ouro sobre grandes corpos
      de chamas,
A minha pobre amiga está tão desamparada
Está toda nua, não tem corpo - é demasiado pobre.
É uma flor cândida, delgada,
A flor do poeta, um pobre lírio de prata,
Muito frio, muito só, e já tão seco
Que as lágrimas brotam se penso no seu coração.




blaise cendrars
prosa do transiberiano e da joaninha de frança.
poesia em viagem
trad. liberto cruz
assírio & alvim
1974



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