26 dezembro 2012

juan miguel lópez / julgamos que a vida nos escapa e na realidade a vida é isso


  

Às vezes fico com a vista parada
─  por exemplo numa parede ─
durante um bom bocado. os olhos
deixam de ver por fora e o corpo
parece que não o sinto. Então
normalmente dou-me conta
(e não mo explico e espanto-me)
desta coisa estranha que é viver,
e faço-me perguntas  que cortam
e o que sou concentra-se num ponto
e a única coisa que sinto é que eu
─  a voz que vive em mim e que me diz
isto e aquilo sem palavras ─ 
também serei menos um. Em breve.
Que tudo o que penso agora,
o que pensei e chegarei a pensar
há muito que não é nada.



juan miguel lópez
poesia espanhola, anos 90
organização e trad. de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000




1 comentário:

Joe disse...

... E como é difícil, por vezes (muitas vezes?), aceitar que somos efémeros e fúteis. Ainda assim, nesse nada que somos há muito, temos sempre imenso para descobrir.