09 maio 2012

josé antónio almeida / ao anoitecer






Sou um velho rato celibatário
─ a lei não me permite casamento.

Outros encontram sem dificuldade
o universo pronto a vestir
  
logo de manhã, desde que nasceram.
Depois trajam todas as convenções

─ que lhes assentam bem, do colarinho
às mangas, até parece que Deus

é um alfaiate por conta deles.
A nós, a melhor roupa fica mal

─ em nenhuma loja vendem sapatos
que nos deixem ir noutra direcção,

nem anel que não faça propaganda
à ordem sempre «natural» do mundo.






josé antónio almeida
rumo
a poesia em 2009
assírio & alvim
2010



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