19 dezembro 2011

edmundo de bettencourt / consagração





Tinham desaparecido
as casas da cidade.
E havia agora uma praça,
donde a população olhava o céu, à espera.

O avião chegou.
Vinha sobre uma nuvem branca,
que irradiava aromas,
a claridade e a música, pelos ares...

O aviador de fora e à frente,
conduzia-o
e andava no ar como no chão!

De repente o avião desceu
vertiginosamente!

Caía...

E embora não se ouvisse explosão,
em baixo
um fumo negro, imenso, com destroços,
e o fogo, começaram subindo
à altura em que o avião pairava antes.

A multidão,
rápida,
como as águas duma enchente,
escoou-se...

Depois mais nada;
isto é:
somente uma infinita escuridão por sobre
a qual a palavra perdão jamais será escrita!





edmundo de bettencourt
poemas surdos
assírio & alvim
1981


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