09 novembro 2010

nuno vidal / lachrimae coactae







A locusta sagrada vinha pela noite
rilhava a esperança posta para amanhã
nas pancadas repetidas das gelosias.
O pulso apertava o fim sem chegada
mas que fazia morrer cada dia
tinha
de haver sempre para quê?

Aqui era a decrépita restaurada mão
aleivosa do amor a dobrar-nos
no cadafalso, com escarninha mesura.
Pelo soalho cotão, o cheiro
restado dos lençóis, doçura
tudo em rodilha, cinza, exaltação.

Pelo lento valado do verão
de tentearmos encontros, as vésperas
num visco enorme de sol tardio
julgando cada dia por roubado
ao destino que não pertencia
e corria por outro regato.
Meu Deus, a tua sede cortada.

Tens sempre o teu albergue, os teus
inestimáveis bens comungados
e porém. Os espoliados d´aquém
mar, que diabo os carregue?
Mas não fiques, não oiças
não quero, eu só quero que
a noite não suceda.

Eu desamparo-te o foral eu
nem vale que me cale
quedo-me sem pátria que nem
tinha e houvera unhas tangia
uma canção de protesto triste.






nuno vidal
as escadas não têm degraus 3
livros cotovia
março 1990





1 comentário:

alma disse...

Nuno,

Que bom poder encontrar-te e ler!

desta viagem apenas o obrigada pelo momento.

bj