03 fevereiro 2010

marin sorescu / xadrez









Eu movo um dia branco,
Ele move um dia preto.
Eu avanço com um sonho,
Ele manda-o para a guerra.
Ele ataca os meus pulmões
Eu fico um ano no hospital a pensar,
Faço uma combinação brilhante
E ganho-lhe um dia preto.
Ele move uma desgraça
E ameaça-me com o cancro
(Que por agora avança em forma de cruz),
Mas ponho à sua frente um livro
E obrigo-o a recuar.
Ganho mais algumas peças,
Mas, reparem, metade da minha vida
Já está fora de jogo.
— Vou dar-te cheque e perdes o optimismo
Diz ele.
— Não faz mal, gracejo eu,
Faço roque dos sentimentos.

Atrás de mim a minha mulher, os meus filhos,
O sol, a lua e os outros mirones
Tremem por cada jogada minha.

Eu acendo um cigarro
E retomo a partida.







marin sorescu
simetria
tradução colectiva revista, completada e apresentada
por egito gonçalves
poetas em mateus
quetzal
1997






2 comentários:

Jonathan disse...

Interessante!!!

Anónimo disse...

Amiga, a vida é bela!Vc.tem filho tem amante,tem a poesia no sangue! Já pensou em quem não tem nada? Tantos queriam estar na seu lugar...olhe p/ bx.p/ trás e veja o outro... Olhe p océu, seu céu interior é mais azul, vc. tem Luz, faça-a brilhar!...