17 julho 2008

andre breton e paul éluard / a morte







Um chamalote de campo esconde na sua trama uma fornalha de insectos. De mão em mão, o furão passa com a forma de escorpião na nassa da maldade. Vem florinha intraduzível, por aqui (ela esconde-se). Eh lá! motorista (ele desce do seu lugar e foge). Espere, lembrava-me porém de um nome… Uma pá de diamantes a quem me trouxer de volta ao cão que era!

E nada esqueço. Há ainda uma garrafa de sangue para quem se compromete a viver com as imagens que eu não quis.

Sinto-me terrivelmente melhor. As vãs palavras que me tinham posto na boca começam a fazer o seu efeito. Os meus semelhantes abandonam-me. Com a mão na juba dos leões, vejo o horizonte enganador que pela última vez me vai mentir. Tiro vantagem de tudo e das suas mentiras com forma de lixo e daquele pequeno rodeio que faz ao passar sempre por minha casa.
Nada me serve tão bem como quando ele me encontra.

Mesmo assim que exame estúpido! Ter-me-ia saído bem, com todo o rigor sem aquela pequena pergunta de história. Felizmente não me tinha apresentado.

As viagens sempre me levaram demasiado longe. A certeza de chegar nunca me pareceu mais do que a centésima campainhada a uma porta que não se abre.

O próprio sofrimento era possuído. Quando esta mulher com corpo de gelosia veio abanar-se no meu leito, compreendi que devia ter frio. Tive frio. Mas a juventude velava: na verdade ainda mal tinha sofrido. Devo confessar que fiquei com a sua cabeça sobre o meu peito. Além, aquela claridade, é a sua forma nocturna que não pode desaparecer e sustenta a noite e procura a luz onde já não existo.

De resto, o poço fica todo em superfície. O caracol do Verão nos cabelos da Primavera explicou-me demoradamente o que á a promessa. A chuva bestial trazia nas suas antenas o progresso que coxeia no musgo. E canta sempre o capricho taciturno e ameaçador que tudo deixa perecer. O som da sua voz é uma cicatriz.

Cá está a grande praça gaga. Os carneiros chegam a toda a velocidade, em andas.









andre breton e paul éluarda imaculada concepção
tradução franco de sousa
estúdios cor
1972

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