28 maio 2008

a morte







A Morte

— a Morte de que eu falo —
não é a que segue logo a tua queda,
mas precede a tua aparição no fio.

Antes de subir é que morres.

O que dança já está morto
— decidido a todas as belezas, capaz de todas elas.

Quando apareces, vai uma palidez

— não, não estou a falar de medo mas do contrário,
de uma invencível audácia —
vai uma palidez cobrir-te de cima a baixo.

Apesar da pintura e das lantejoulas
serás pálido e de alma lívida.

E nessa altura

é que a tua precisão será perfeita.
Sem mais nada que te prenda ao chão,
podes dançar sem cair.

Mas trata de morrer antes de apareceres,

e seja um morto,
já,
a dançar no fio.

(...)








jean genet
o funâmbulo
trad. de aníbal fernandes
hiena editora
1984



2 comentários:

Victor Oliveira Mateus disse...

a morte enquanto abolição de um dado sentir, enquanto privação de,
para depois, liberto (ou morto?), poder "dançar no fio"... Interessante! Muito interessante, até para um não-admirador de Genet!

Edna Moda disse...

Parabéns pelo seu blog que foi mencionado no blog que indica blogs no tema poesia http://ednamoda.blogspot.com/