06 maio 2012

e.e. cummings / a função do amor é fabricar desconhecimento






a função do amor é fabricar desconhecimento

(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas, o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto, os peixes se gabem de pescar

e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia, a luz declina, os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
─ -o medo tem morte menor; e viverá menos quando a morte acabar)

que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram)que sonham, criam e matam
enquanto o todo se move; cada parte permanece quieta:




e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999





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